Lula: a aposta no novo e no futuro


O ex-presidente Lula, a maior liderança política popular forjada no seio do Partido dos Trabalhadores, durante quatro eleições presidenciais sucessivas, foi a escolha do PT para dirigir os destinos maiores da Nação. Vencendo em 2002, Lula foi o regente do projeto político que afirmou a soberania do Brasil, colocando o país nos trilhos do desenvolvimento econômico com distribuição da riqueza e geração de emprego e renda. Quando reeleito em 2006 e, com a proximidade de sua sucessão em 2010, o Presidente Lula se preocupou com a importante tarefa de “passar o bastão” e garantir a continuidade do projeto de país que contemplou os anseios de um maior número de brasileiros.
Sendo o líder natural e presidente de honra do maior partido de esquerda das Américas, e agremiação preferida do eleitorado brasileiro, Lula poderia ter convocado para sucedê-lo, no amplo quadro de valorosos filiados ao PT, companheiros históricos, fundadores do partido, políticos experimentados na vida parlamentar, dentre dezenas de senadores e deputados federais, ou ainda gestores reconhecidos e aprovados em suas experiências administrativas, a exemplo de prefeitos e governadores bem avaliados, todos esses no rol dos que haviam passado por disputas eleitorais e pela experiência de terem sido votados. Mas Lula teve a visão de estadista, destacando para uma das mais importantes decisões de sua carreira política, uma figura que não tinha militância histórica no PT, nunca havia disputado eleições ou conduzido uma campanha política, mas destacava-se por sua capacidade técnica e rigor gerencial: Dilma Rousseff.
O resultado das urnas em 2010 mostrou que Dilma, inexperiente como candidata, venceu e convenceu o povo brasileiro. Seu rival, o tucano José Serra, já havia sido presidente da UNE, fundador e presidente do PSDB, deputado federal constituinte, Senador da República, prefeito da maior cidade do país e governador do estado de São Paulo. Além disso, havia sido candidato à Presidência da República em 2002, como indicado do então presidente Fernando Henrique. Experimentado ao longo de décadas no calor das disputas políticas e eleitorais, José Serra sucumbiu diante de Dilma Rousseff, no primeiro registro de candidatura que esta teve.
O Governo que Dilma hoje conduz é prova não só da visão acertada de Lula, mas sobretudo atesta que ela não era “um poste”, como pregava a imprensa machista e a oposição raivosa, pois muito de sua personalidade forte, com pontos distintos do comportamento de seu antecessor, é determinante do sucesso administrativo que sua gestão vem consolidando. A Dilma, que no linguajar comum não seria considerada uma política, com seu perfil de gerente, tecnicamente preparada e focada nos projetos que definem o futuro do país, avança nas conquistas deixadas por Lula, inserindo o Brasil cada vez mais de uma forma altiva no cenário internacional.
É na esteira desta aposta no novo, com os olhos no futuro, que Lula mais uma vez toma a atitude ousada de apresentar como candidato a prefeito da maior capital do país um quadro técnico, academicamente preparado, gerencialmente competente e, também, neófito em disputas eleitorais. Falo do Ministro da Educação, o jovem Fernando Haddad, um professor que Lula confia ser a melhor opção para governar o município de São Paulo.
Em qualquer outro partido político, a ousadia e espírito visionário de Lula seriam interpretados como “burrice” pelos “experientes” políticos – e analistas políticos – com anos de estrada. Digo isso porque as pesquisas, cada vez mais utilizadas de forma distorcidas para atender a algumas conveniências, não são, no momento, favoráveis ao nome de Fernando Haddad. Em São Paulo, o PT tem no nome da ex-prefeita e atual Senadora Marta Suplicy o melhor nome nas pesquisas, com 30% das intenções de voto, contra míseros 2% do Ministro da Educação. Além disso, Marta supera com tranquilidade qualquer um dos prováveis adversários do PT no próximo pleito e o senso comum da política – que não é necessariamente um bom senso – recomendaria que o nome dela fosse imediatamente homologado, descartando-se o candidato dos 2%.
Advirto, contudo, que seria tolo quem duvidasse da inteligência política de Lula. O ex-presidente sabe que Haddad é tão viável quanto a Marta. Primeiro porque pesquisa, nos dias de hoje, serve apenas como um retrato do momento e não como a apresentação de um cenário definitivo. Falta praticamente um ano para as eleições e o cenário pode mudar, assim como em todo canto muda o cenário da política, em períodos curtos, como, por exemplo, nos últimos dois meses. Em segundo lugar, as pesquisas hoje servem menos para aferir intenção de voto consolidado e mais para mostrar quem, de fato, é conhecido do eleitorado. No caso de São Paulo, Marta foi prefeita, disputou a reeleição e perdeu, foi candidata ao governo do estado, também sem êxito, e venceu a última disputa por uma cadeira no Senado. Entre vitórias e derrotas, são pelo menos 10 anos com o nome em evidência, nas grandes disputas eleitorais onde o eleitor paulistano teve de fazer suas escolhas. Natural que o nome dela se destaque frente a um concorrente que nunca teve o nome estampado em qualquer material de campanha de disputa majoritária. Por último, Lula sabe que nas urnas em 2012, não se distinguem os 2% de Haddad e os 30% de Marta, pelo contrário, esses números se somam: é a simpatia do eleitor por Marta Suplicy, é a força da militância do PT, é a referência do partido na sociedade e o sentimento da população por ele, é o peso de Lula e seu simbolismo que desaguam, de uma só vez, no capital eleitoral que Fernando Haddad vai passar a incorporar.
A escolha dos candidatos é tarefa dos partidos e não das pesquisas eleitorais ou dos palpiteiros políticos. Essa é uma tarefa que o Partido dos Trabalhadores cristalizou em seu Estatuto e suas Resoluções Políticas. É o PT de São Paulo, por meio de seu Diretório e dirigentes legitimamente constituídos que vai decidir, possivelmente no próximo mês, o indicado para a disputa de 2012. De nada adianta, hoje, a senadora Marta Suplicy ter a preferência do eleitorado da capital se não tiver, também, a preferência de seus companheiros de partido. O determinante é a correlação de forças internas do partido e a “costura” que se faz com as diferentes correntes e tendências, e aí é que vale a vantagem de Fernando Haddad, não só porque tem a simpatia do ex-presidente Lula, mas porque tem dialogado, construindo e ampliando a sua pré-candidatura junto às mais representativas correntes da militância petista.
Não se vence uma eleição por antecipação, assim como não existem fórmulas prontas ou mágicas para obter uma vitória eleitoral. O recado que o presidente Lula dá em São Paulo – que chegou a vez da experiente Marta ceder lugar ao novato Haddad – pode ser traduzido aos petistas de todo o Brasil no ensinamento de que, para vencer na política, é preciso ter coragem e ousadia. Só não tem chance de vencer eleição quem tem medo de ir à luta.
Luiz Frederico Rêgo (Fredinho), é militante do PT e Secretário-Geral do
Partido dos Trabalhadores (PT) de Brumado.
Brumado-BA, 16 de Outubro de 2011

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